À espera dos bárbaros
sexta-feira, dezembro 31, 2004
  A altura do tecto. A expressão que mais me tocou ultimamente, pela justeza e pelo alcance, foi a de Cesariny relativamente ao facto de viver(mos) num «tempo de tecto baixo».
 
  Colaboração no blogue dedicado a Garrett: «Por uma biografia moderna de Garrett» e «Gostos e desgostos».
 
  O Asno Lúbrico Os votos de Bom Ano estão contidos no novo texto colocado no Em Louvor dos Fanáticos.
É uma brevíssima narrativa de Elias Canetti.
 
quinta-feira, dezembro 30, 2004
  Televisões. É isto mesmo. Mas convém sublinhar que é assim em todos os canais.
 
quarta-feira, dezembro 29, 2004
  Sublinho: de uma grandessíssima puta.
 
 
Manuscrito de Garrett (com a devida vénia ao blog garrettiano).
A Moira Encantada, hoje distribuída com o Diário de Notícias.
 
  Perguntas parvas. No Diário de Notícias de hoje:

Portugal deve ter prevenção anti-tsunami?
Sim
Não


 
terça-feira, dezembro 28, 2004
  .

Uma recordação da primeira adolescência
Rip Kirby, de Alex Raymond.
 
  Aprendendo literatura, desaprendendo a língua. Uma imagem pregnante: «a gravidez do sagrado».
 
segunda-feira, dezembro 27, 2004
  Ordem alfabética.
Conheci em tempos uma divisão administrativa que ordenava o seu ficheiro de nomes pela ordem alfabética do primeiro nome. Mais: um Doutor estava ordenado pelo «D» e um Capitão pelo «C». Se não se soubesse o apelido nunca se encontrava ninguém.
Fico agora a saber que o Professor Doutor EPC ordena os trabalhos universitários dos alunos também pela ordem alfabética dos primeiros nomes (ver). Pode ser um fétiche ou apenas uma ordenação que reflecte a informalidade do tratamento (a Andreia, a Vanessa...). Mas nas crónicas deste «colunista» atraem-me quase sempre mais os pormenores do que o resto... Que hei-de fazer?
 
  Em pleno PREC
e num lugar bem quente política e geograficamente, havia um médico de meia idade que atribuia (com sotaque do Norte) tudo o que de mal acontecia aos «estrangeiros». Não se sabia bem a extensão desta acusação, mas os estrangeiros eram o inimigo por detrás de tudo.
Este homem interrogava, no café, uma daquelas figuras de província, cuja idiotia dócil torna populares, sobre se gastaria menos gasolina conduzindo mais depressa, isto é chegando mais rapidamente ao destino, ou o contrário. O outro, que a si próprio se designava como o «parvo mais esperto» da terra, escancarava a boca e os olhos perante a complexidade da questão.
Este médico sustentava frequentemente que as guerras e as calamidades são formas de regulação natural, uma espécie de controle providencial dos excessos populacionais, da fome e da miséria.
Há gente que pensa assim. Gente cheia de si e da sua importância. Gente que decerto nunca se sente aquele «bicho da terra tão pequeno» de que fala Camões.
 
domingo, dezembro 26, 2004
  Usos e desusos. Ainda a tempo para a «quadra festiva»:

«Quando vos sentardes, conservae sempre uma posição decente; repotrear-se n'uma cadeira ou sofá é uma acção pouco decorosa».

«Nos jantares de ceremonia deveis evitar repetir os pratos; nem tão pouco assoprar a sopa.»

«Não masqueis de rijo; não mettaes grandes pedaços na bôca; não tomeis tabaco á mesa.»

«Em França não se usa de palito, a não ser nas casas de pasto; mas como isso entre nós é trivial, podereis embora servir-vos d'elle, mas nunca fallareis tendo-o na bôca.»

in Novo Secretario Universal Commercial Portuguez ou Methodo de Escrever Toda a Especie de Cartas, [Regras Geraes de Civilidade e Etiqueta] Livraria de J. J. Bordalo, 13.ª edição, Lisboa, 1874.
 
  O português, outra vez. Adenda.
Bem definidas as regras da gramaticalidade e as margens de aceitabilidade (com a sua fluidez própria), sobrariam ainda as questões de fidelidade e também de gosto, decididas muitas vezes no plano individual. Preferir assassínio a assassinato ou pormenor a detalhe. Banir coisas como «É suposto que eu faça...» ou «sou suposto fazer». Mas isso suporia ter resolvido as questões globais da educação....
 
  O português, outra vez. Dez notas avulsas.
1. No Público de hoje. Lá vem o óbvio ululante rol da caterva de erros que se tornaram comuns, lá se defende o «regresso» à norma e ao latim. Por mim tudo bem. Óptimo mesmo. Mas conseguir isso através de um «ensino inovador»? Soa a mais do mesmo.
2. A questão da língua, como a do próprio ensino, não tem solução. Estou do lado dos pessimistas.
3. Sei alguma coisa de história da língua, conheço os fenómenos evolutivos das línguas, mas o argumento histórico, tal como os linguistas o costumam apresentar, não me convence inteiramente, como não convence o relativismo da «teoria do saldo»: entre perdas e ganhos, o balanço é sempre positivo, o que se ganha é sempre mais do que o que se perde. Isto é, não há motivo para nostalgias.
4. As línguas têm certamente uma grande capacidade de «regeneração». O que significa que a norma se altera de tempos a tempos para se ajustar às imposições do uso. Mas a condição essencial para que a norma se altere é que ela exista bem definida e estável. O que hoje acontece é que, em termos de ensino da língua e do conteúdo das gramáticas, há uma série de aspectos sobre os quais parece não existir qualquer definição normativa. Pelo contrário, o que transparece é a confusão. O problema já não é tanto regressar à norma, é saber do que estamos a falar quando falamos de norma...
5. Os linguistas, os portugueses em primeiro lugar, têm, a maior parte das vezes, uma «visão de dentro», muito condicionada. Se, perante um certo fenómeno, percebem que um certo número de falantes optam pela solução A e outros pela solução B, ou que transitam entre as duas soluções, o linguista sente-se impotente para determinar se há uma mais certa do que a outra, uma vez que elas coexistem. É ainda o triunfo do «descritivo» sobre o «normativo».
6. É esta situação que justifica a existência de serviços de consulta linguística e gramatical como o ciberdúvidas.
7. É claro que a «culpa» não é do sms ou da internet. Esses meios apenas reflectem, de modo particular, o problema.
8. Por razões que não vêm ao caso, tenho lido textos e trabalhos de alunos adiantados num curso da área das «ciências» humanas, de uma universidade conceituada. Se não conhecesse outras situações, isso bastaria para induzir a nostalgia. A degradação é real, meus senhores e minhas senhoras, muito real e concreta. Mais assustador ainda é observar que ela atravessa todas as classes sociais, níveis etários e de instrução: veja-se o caso do desaparecimento da conjugação pronominal («vou dizer a ela» em vez de «vou dizer-lhe»).
9. Compreendo os argumentos relativos à importância de alçar a língua portuguesa a um plano internacional e, nesse plano, a necessidade de articulação entre as variantes existentes. Mas tudo isso não tem sentido se em Portugal não se perceber bem o que é isso do português, disciplina cada vez mais odiada nas escolas, e não se lhe atribuir uma importância acima da ordem da mera aquisição de conhecimentos.
10. Se não for por uma razão identitária, porquê continuar a falar português?
 
sábado, dezembro 25, 2004
  El buen momento, poema de José Hierro

Aquel momento que flota
nos toca con su misterio.
Tendremos siempre el presente
roto por aquel momento.

Toca la vida sus palmas
y tañe sus instrumentos.
Acaso encienda su música
sólo para que olvidemos.

Pero hay cosas que non mueren
y otras que nunca vivieron.
Y las hay que llenan todo
nuestro universo.

Y no es posible librarse
de su recuerdo.
 
quarta-feira, dezembro 22, 2004
  Citações dedicadas. Achega para a antologia da traição do Abrupto:
«Qué político no traiciona? A sí, a los demás. Sin eso, el mundo no adelantaría, estaríamos donde estuvimos. Traicionó Bonaparte a la revolución? Traicionó Lutero? Traicionó Isabel la Católica? Traicionó Julio César? Traicionó Bruto? La historia de la evolución, del progreso, es una larga história de traiciones, la historia misma de la traición, por eso la gente huye de hablar de ella.» (Max Aub)

 
segunda-feira, dezembro 20, 2004
  Mário Cláudio
Acabei de ouvir a entrevista/conversa de Francisco José Viegas com Mário Cláudio na RTP.
Tenho menos fé do que ele nas «minorias espectaculares», não que negue a sua existência, mas porque também elas tendem a deleitar-se na sua própria espectacularidade, e, de uma penada, instalam-se, institucionalizam-se como minoritários de serviço (sobretudo no campo da cultura, mas não só). O que não quer dizer que não seja bom que existam, embora muitas vezes também lhes «falte mundo». Prefiro, porém, as «minorias discretas», dos que abrem o seu caminho sem alarde. São quase sempre as mais importantes. Como, aliás, é o caso de Mário Cláudio.
Além disso, mesmo confiando nessas «minorias espectaculares», o grau de «civilização» ou de «avanço» de uma sociedade estará na qualidade da grande massa da qual se destacam as ditas minorias. Qualquer pessoa, mais ligada à ciência, o dirá. E essa é a grande questão.
Estes são aspectos que mais conversaria com o escritor, no sentido em que converso mais para saber o que penso do que para persuadir. De resto, Mário Cláudio é de uma inteligência serena e clara, cada vez mais rara entre nós.
 
sexta-feira, dezembro 17, 2004
  Estivesse eu com paciência
e hoje empreenderia com a crónica de EPC no Público de hoje. Mas não, estou cansado. Chamo apenas a atenção (de quem?) para o português (sempre cheio de novas dimensões) do senhor comissário. E para as habituais intimidades com os meandros dos institutos e dos seus presidentes. Sempre tudo no contexto do «contemporâneo», claro.
 
  Ninguém deu por isso?
Não dei por que alguém tivesse referido o facto de, no dia do tremor de terra, as primeiras notícias surgidas (e que permaneceram as únicas durante bastante tempo) referiam a ignorância do epicentro por parte do Instituto de Meteorologia, o qual não podia dar mais informações por não conseguir contactar os serviços no Algarve. Em breve os jornais noticiavam a localização do epicentro e o grau de intensidade com base na informação do Instituto de Meteorologia espanhol.
Sem mais comentários.
 
  Usos e desusos. Recomendação sempre pertinente em período natalício e/ou período eleitoral:

«não vos precipiteis com sofreguidão sobre as travessas dos bolos»

in Novo Secretario Universal Commercial Portuguez ou Methodo de Escrever Toda a Especie de Cartas, [secção dedicada às regras de etiqueta] Livraria de J. J. Bordalo, 13.ª edição, Lisboa, 1874.
 
quinta-feira, dezembro 16, 2004
  Agora percebo...
Tive notícias de que certo professor universitário de história de arte diz (não estou a gozar) que existem duas Monas Lisas de Leonardo. Uma está no Louvre e é a Mona Lisa propriamente dita, a outra está em Inglaterra e é a Gioconda. Ora cá está ela, e eu que vociferei contra a ignorância do homem. Afinal era excesso de sabedoria. Já estou a penitenciar-me.
 
  O que ninguém discute a sério.
Várias décadas de inovação pedagógica e transformação social conseguiram produzir o fracasso educativo que está hoje à vista de todos e que ninguém se atreve a negar.
Mais um artigo de Fátima Bonifácio sobre educação. Duro, como os outros. Ninguém, fora da esquerda (descontando as coisas do tipo «conversa de taxista»), tem escrito artigos tão contundentes e tão articulados sobre o estado da educação. É pena, porque o estado das coisas é muito pior do que se deixa transparecer.
 
quarta-feira, dezembro 15, 2004
  O sentido das palavras, senhores jornalistas. Assinalar, tudo bem. Mas comemorar?, celebrar? Por amor de Deus! (ver)
 
  Tiro o chapéu a este texto. Não vi a cena, mas é como se tivesse visto. Obrigado.
 
terça-feira, dezembro 14, 2004
  Usos e desusos. Um jovem doutor pedindo um emprego a um deputado do seu círculo. Illmo. Sr.
Sem mais titulos para merecer a benevolencia de V. S.ª além dos que possuo por fazer parte da familia que mais contribuira para o seu triumpho, nas ultimas eleições para deputado, e depois de ter o prazer de felicital-o por tão dignamente representar o circulo que o elegeu, permitta-me V. S.ª que o importune patenteando-lhe a apoquentada situação em que me encontro, bem como a de meus queridos paes.
Por certo V. S.ª não ignora o desabrido inverno (ou outro motivo) que este anno tivemos, o qual devastou todas as colheitas, sendo, infelizmente, a lavoura de meu pae, quem mais padeceu com esta calamidade, isto junto ás avultadas despezas, necessarias para eu completar com bom exito a minha formatura, arruinou a nossa pequena fortuna, reduzindo meu bom pae quasi á miseria!
Tornou-se-me necessario abusar talvez demasiado da attenção de V. S.ª para se compenetrar do quanto me é necessaria toda a valiosa protecção que me possa dispensar, de eu obter uma collocação qualquer em que comece a minha carreira e possa ao mesmo tempo cumprir o sagrado dever de ajudar meus velhos paes, que tanto se teem sacrificado por minha causa.
Informaram-me que no concelho de... ha uma vaga de administrador (ou outro qualquer logar), e ainda que me fosse bastante penoso separar-me de minha familia, quasi no ultimo quartel de sua existencia, agradeceria em extremo qualquer collocação alcançada pela poderosa influencia de V. S.ª
Pedindo mil perdões pela liberdade que tomei de importunar a V. S.ª, e agradecendo desde já todo o obsequio que me possa dispensar, sou com toda a consideração e respeito.
De V. S.ª etc.

in Novo Secretario Universal Commercial Portuguez ou Methodo de Escrever Toda a Especie de Cartas, Livraria de J. J. Bordalo, 13.ª edição, Lisboa, 1874.

 
  Memória e outras coisas.
1. Na minha infância havia livros, num baú e num sótão, como mandam as regras, que eu gostava de folhear e de ler, sobretudo quando as amigdalites me obrigavam a ficar de cama. Um dos meus preferidos era uma colecção de revistas Em Guarda e Vitória, distribuídas, suponho, pela embaixada dos EUA durante a II Guerra Mundial. Essa colecção, encadernada em dois volumes, ainda a conservo. Mas havia um outro, um livro de Calembours, versalhada que usava e abusava dos trocadilhos, a que eu perdi o rasto. Tenho-me lembrado dele nas últimas semanas porque um dos calembours, o mais visitado porque me fazia rir imenso, se chamava «Ora o Lopes...»
2. Tenho ouvido falar na televisão, ultimamente, os industriais do humor nacional. Porque o humor agora é uma indústria. Assim que os ouço advogar a gracinha como modo de «estar na vida» desligo ou vou-me embora. Um senhor, grande industrial do sector, aponta mesmo, como exemplo, bom exemplo, as gracinhas que os apresentadores de telejornais tanto gostam de dizer. Uma senhora recomendou até a graça distribuída ao domicílio, para gáudio dos trabalhadores e felicidade das famílias. Então não se vive melhor se estivermos bem-dispostos?
A gracinha, a graçola, a obrigação de ser engraçado, de ser brejeiro, de fazer trocadilhos, de fazer esgares grotescos, é das coisas mais lamentáveis que hoje se apoderaram da vida portuguesa. O humor ostensivo tornou-se omnipresente, intromete-se em tudo e a toda a hora. O humor passou a ser tomado a sério. É cansativo, insuportável. Sobretudo por não ter, em grande parte dos casos, graça nenhuma. Que digo!, estou a ser muito severo, então não tem tanta graça... eu é que não tenho sentido de humor.
Ah!, mas eu vivo na lua!, o humor mudou, os públicos mudaram, as situações mudaram.... como diria o grande actor Manuel Santos Carvalho (texto de Gervásio Lobato) em O Comissário de Polícia: tudo corre, correm os rios, correm as lebres.... A subtileza mudou tanto, que desapareceu.
Resumindo: a banalização do humor tira graça ao «humor», vulgariza-o.
3. Há tempos levei ao Teatro da Trindade uma jovem que nunca tinha ido ao teatro. Eu próprio não ia ao teatro há anos (nem quero pensar no que tenho perdido...). Escolhi uma coisa que se adequasse à ocasião: leve e com um toque cultural...
Na primeira fila, um friso de senhoras loiras e cheirosas, tilintantes, vestidíssimas. Uma delas girou o pescoço inspeccionando tudo à sua volta, e disse: «Ah!, um teatro barroco, é lindo!» Foi a coisa mais engraçada que aconteceu nessa noite. Mas não era isto que eu queria dizer (ah!, a velha técnica cronística de Nelson Rodrigues), o que realmente me deixou angustiado foi observar (e ouvir!!!) as enorme gargalhadas de algumas pessoas. Isto é: a completa inadequação, que digo?, a desproporção enormíssima entre a graça e a reacção provocada. Um trocadilho, uma ironia que mereceria um sorriso no caso de ser uma coisa bem vista, bem apanhada, é recebida com um riso estrondoso, patético, pateta mesmo.
 
  Os novos estilitas (anacoretas que habitam sobre uma coluna).
«Este é o homem sem medo, surdo ao aos ventos desenfreados, que nutre o seu corpo de pão celeste e de uma bebida que não é deste mundo. A base da coluna serve de raiz ao seu pé. Émulo de Simeão; a sua boca anuncia ao povo o Filho da Virgem.» Estas palabras estão gravadas em Anaplus, no estreito do Bósforo, na base da coluna do Santo Estilita Daniel e mostram que a questão dos «colunistas» não é nova.... o que não significa que eu não esteja de acordo com o que aqui se diz.
 
segunda-feira, dezembro 13, 2004
  Usos e desusos.
Queixas.

Ill.mo. Sr. e Amigo.

Por mais que scisme não posso atinar com a verdadeira causa por que V. S.ª se esquiva hoje a fazer o que de tão bom grado me havia promettido: tão futeis me parecem as razões que allega! Se V. S.ª não podia, ou não queria obsequiar-me, por que motivo annuiu de tão boa vontade ao meu pedido? Confesso que esta inconsequencia da sua parte, e n'um objecto para mim de tanta importancia, quasi me faz duvidar da sua amisade, e por mais que eu queira justificar o seu procedimento incomprehensivel, não posso achar-lhe desculpa. Todavia, para não ser taxado de imprudente, esperarei para formar o meu juizo, que V. S.ª me dê explicações mais cabaes e positivas. Sou, etc.

in Novo Secretário Universal Commercial Portuguez ou Methodo de Escrever Toda a Especie de Cartas, Livraria de J. J. Bordalo, 13.ª edição, Lisboa, 1874.
 
 
Aventuras de Matxi na blogosfera Posted by Hello 
  Como eu compreendo este post de Como Se Fosse Uma Baleia!!!
 
domingo, dezembro 12, 2004
  Os malandrinhos. Vi ontem, pela segunda vez, um bocadinho de «O Eixo do Mal». Verifiquei de novo que, também no campo da graçola, há quem se tome a sério. O que é duplamente lamentável.
 
  Sampaio, Santana. Cumpre-se a velha máxima segundo a qual cada um se transforma naquilo que é.
 
sexta-feira, dezembro 10, 2004
  Efeméride.
Ontem não assinalei aqui a efeméride garrettiana. Fi-lo ao almoço, em longa conversa. Bacalhau na broa, bom vinho tinto. Um gravíssimo charuto. O rio ali ao lado. Como é que não há uma biografia moderna de Garrett?
 
  Nuestro hermanos.
O governo socialista espanhol produziu um documento para reger o «bom governo do Governo» (aqui). Tudo estaria razoavelmente bem, se não fosse a irresistível tentação do politicamente correcto. Vale a pena reflectir porque há-de cá chegar também.
 
  Os juízes e as leis.
A crónica de EPC no Público de hoje (veja-se) é o espelho da falta de senso habitual (embora deva ser uma alusão a qualquer situação que desconheço).
A alternativa é a de (1) atribuir subsídios mediante o preenchimento de um formulário (eventualmente idiota), pretensamente objectivo e ignorante de tudo o que um formulário obviamente não pode conter, ou (2) atribuí-los com base num juízo crítico que «não é susceptível de ser fundamentado em termos absolutos»?
Ora bolas!
Então não se deveria disciplinar a «margem de subjectividade» com critérios objectivos e rigorosos? É que o império da subjectividade nesta matéria costuma fazer adornar o barco sempre para o mesmo lado, sobretudo quando existem uma espécie de «profissionais do júri»... mesmo que sejam «rotativos»... Além, claro, dos profissionais do subsídio.
 
  De novo uma crónica de Benard da Costa.
 
  A cada um os seus autores. Nada li da senhora Jelinek. Não li e não gostei. Porque tenho outras coisas para ler, e porque o nome me faz lembrar um misto de gelatina e alforreca. Nah, não é para mim....
 
  O êxito deste Natal. A dissolução explicada às crianças e ao povo, pelo Dr. Jorge Sampaio.
 
  Em Louvor dos Fanáticos
Todos os anos pelo Natal ofereço aos meus amigos a tradução de um texto, na medida do possível inédito em português, escolhido por critérios de cumplicidade.
Ponho agora à disposição dos visitantes deste blog um desses textos que, por ser mais longo do que um post deve ser, tem uma residência diferente: Em Louvor dos Fanáticos.
Gostaria de o endereçar, particularmente, a Francisco José Viegas, a Chalabi Red, a João Carvalho Fernandes, e a todos os outros que encontrarem nele motivos que justifiquem o tal «critério de cumplicidade».
A tradução já tem alguns anos: aceitam-se críticas e sugestões. Tenho pena de o texto não estar publicado entre nós, mas ao mesmo tempo dá-me imenso gozo que seja só partilhado por alguns. Os que gostarem dele hão-de perceber o que quero dizer.




 
quinta-feira, dezembro 09, 2004
  Usos e desusos. Illmo. Exmo. Sr.

As provas que V. Ex.ª me tem dado da sua bondade são tantas que me dão animo para lhe pedir ainda novas demonstrações de benevolencia. Um amigo, cujos interesses tomo muito a peito, traz entre mãos um processo que se acha no tribunal a que V. Ex.ª preside, e no qual, segundo me afirma, a justiça está toda de sua parte; e como poucas pessoas haja tão justiceiras como V. Ex.ª, tomo a liberdade de lhe offerecer mais esta occasião de exercer a sua equidade, persuadido, como estou, de que o amigo em favor do qual solicito a protecção de V. Ex.ª, é sobremodo nobre e honesto para tentar ganhar um processo, que lhe parecesse injusto. A confiança que o meu amigo tem no direito que lhe assiste, e a certeza de que V. Ex.ª me honra com a sua amisade, são para elle um feliz presagio de bom exito do seu negocio, e para mim um grande motivo de contentamento, não só por me empenhar por uma coisa tão justa, como tambem por me vangloriar de ser com a maior consideração, etc.
in Novo Secretario Commercial Portuguez ou Methodo de Escrever Toda a Especie de Cartas, 13.ª edição, Livraria de J. J. Bordalo, Lisboa, 1874.

 
quarta-feira, dezembro 08, 2004
  Salve Regina. Salve Regina,
mater misercordiae!
Vita, dulcedo
et spes nostra, salve!
Ad te clamamus
exules filii Evae.
Ad te suspiramus,
gementes et fientes,
in hac lacrimarum valle.

Eja ergo, advocata nostra,
illos tuos misericordes oculos
ad nos converte.

Et Jesum,
benedictum fructum ventris tui
nobis post hoc exilium ostende!

O clemens,
o pia,
o dulcis virgo Maria!

(com a música de Pergolesi, que é a que estou a ouvir agora)
 
  Usos e desusos.
Carta de um amigo a outro pedindo uma carta de recommendação para um ministro.
Meu querido amigo.
Ainda que ha bastante tempo não tenhas querido honrar esta tua casa, e eu egualmente não tenho ido á tua, afim de não interromper os teus trabalhos, recordando os laços de antiga amisade que te unem ao actual ministro... (do reino, fazenda, marinha, etc.) muito apreciaria que me obsequiasses com uma carta de recommendação para elle, afim de obter prompto resultado a minha pretenção.
Tu sabes os direitos que possuo, porém actualmente ainda que qualquer negocio seja de justiça, sem bons empenhos nada se obtem, e por isso é que te importuno com este pedido, que espero não negarás ao teu amigo muito obrigado, etc.
in Novo Secretario Commercial Portuguez ou Methodo de Escrever Toda a Espécie de Cartas, 13.ª edição, Livraria de J. J. Bordalo, Lisboa, 1874.
 
terça-feira, dezembro 07, 2004
  Pronto, lá passou. De qualquer maneira não vi o jogo, estive a fazer arroz de bacalhau. Não estava mal. O meu filho diz-me que os golos foram todos bons.
 
  Atavismo. Lamento, mas vou torcer pelo Chelsea. Apesar de não gostar de Mourinho.
 
  Nestas alturas há tendência para a unanimidade.
Mas eu sei bem, muito bem, certamente melhor do que muitos, o que Soares significou para a minha liberdade. Nada do que disse ou fez depois me fez esquecer disso. Hoje, dr. Mário Soares, erguerei um copo à sua saúde.
 
segunda-feira, dezembro 06, 2004
  Num outro nível. «Sabemos, na verdade, que a maioria daqueles a quem confiamos as nossas crianças no ensino secundário, em quem procuramos um guia e um exemplo na universidade, são mais ou menos amáveis coveiros. Trabalham para baixar os alunos ao seu próprio nível de fadiga indiferente.»

George Steiner
(traduzido a partir da versão francesa de Lessons of the Masters, com o título Maîtres et Disciples, Gallimard, 2003)

 
  Obrigado.
Agradeço ao Blasfémias o link para aqui. É que, de outro modo, perderia este mimo. Deve ir para uns dez anos que deixei de comprar o Expresso (depois de ter contribuído para esse peditório desde a sua criação). Passei a ser, claro, um tipo muito mal informado.
 
  Cansaço.
Durante 2 dias os jornais e as televisões vão ocupar-se dos problemas da Língua Portuguesa.
A RTP, segundo leio nos jornais, vai até fazer um programa (o daquela mulher horrorosa e alucinada) sobre o assunto. Coisas fundamentais vão ser ditas, outra coisa não pode deixar de ser... Também disto estou cansado.
Alguém tem ideia de como é ensinada a Língua Portuguesa nas escolas? Alguém tem ideia dos disparates que se dizem por este país fora, nas escolas? Alguém já folheou os manuais com olhos de ver? Alguém está interessado em saber porque é que ensinam às crianças que um determinante é uma palavra que está à esquerda dos substantivos? Alguém está interessado em saber que muitos dos erros dos alunos têm origem na deficientíssima dicção dos senhores professores, que são maioritariamente senhoras professoras? Alguém está interessado em alguma coisa? Alguém já fez aos professores as perguntas que estes fazem aos alunos? Iam ter grandes surpresas...
Alguém já apreciou produção escrita de professores de português (ou de história, ou de filosofia, ou de outra coisa qualquer)? Os professores de Língua podem não ler Camilo, ou mesmo Eça, mas decerto leram, nas férias de verão, o Código Da Vinci. E gostaram. E acham que isso os torna cultos e interessantes.
Acham Saramago difícil (difícil de ler, não difícil de engolir...); Vergílio Ferreira ou Agustina não, são muito chatos. Ruben A. nunca ouviram falar. Os mais «práfrentex» compraram um ou outro livro de Lobo Antunes, o que não quer dizer que tenham chegado ao fim. De Nemésio acham que «ah, sim, acho que foi um escritor». Fogem das Viagens de Garrett, como o diabo da cruz: não querem que as suas crianças passem o que eles passaram na escola... Compreendem perfeitamente que as crianças não gostem de livros «pesados» e prefiram coisas «mais ligeiras».
Ensaio nem pensar. O problema está exactamente em ter de pensar. [Um programador cultural de uma instituição que se diferencia por apresentar tudo o que há de mais «contemporâneo» dizia numa entrevista que não lê ensaio, só ficção.]
Poesia, só a que vem nos manuais e vá lá, vá lá...., mas gostam muito de Florbela Espanca e de alguns poemas de Sophia. Acham que Pessoa era doido e que é triste demais para as crianças. Mas, acima de tudo, acham que agora os jovens não lêem por causa da PlayStation e da televisão.
Chega.
 
  Ah! Se eu arranjar um brinquedo destes, talvez possa prescindir do blog.
 
sábado, dezembro 04, 2004
  Tudo isto é triste, tudo isto é fado.
Estive tentado a intitular este post «país de cafres», expressão que utilizo algumas vezes, mas cedi ao politicamente correcto. Fraquezas...
Queria eu dizer que, lá para o meio da segunda legislatura da era Cavaco, eu e um amigo com quem partilho algumas opiniões e convicções, diziamos «isto está um deserto, caramba, que gente!, que miséria!». Quando veio o Guterres diziamos: «que tempo penoso, e diziamos nós que a coisa estava mal...». Em breve diziamos, como os velhos dos marretas: «Chegámos ao fundo do poço!, tudo isto é inenarrável!» Depois veio Durão, o «homem-batata» como entre nós o designamos e, sem qualquer espécie de optimismo, lá fomos dizendo que aqui e ali havia gente com vontade de fazer coisas, mas sempre de modo débil e confuso. Declaradamente não havia dinheiro, sempre era uma desculpa... a perfeição não existe em política, o que é bom, é-o apenas em função das circunstâncias, bem sabemos... Depois, com Santana Lopes voltámos a dizer: «Agora é que é, chegámos realmente ao fundo do poço.»
Hoje penso que o «poço» não tem fundo, o caminho é sempre a descer. Vertigem do abismo. Para onde quer que nos voltemos é tudo mau. São os Santanas, os Sócrates, os segundos, os terceiros e os quartos. Mas o problemas não é apenas do «pessoal político», os presidentes que se esquecem, os que se ofendem e desofendem, o animal político n.º 2 que chama mentiroso ao presidente que, segundo o mesmo, só diz a verdade, são os juízes, os arguidos notáveis, o ensino, a própria cultura empresarial, os pavorosos debates televisivos, o comportamento, as massas ululantes, a falta de civilidade, o vazio, a «barbárie da ignorância». Alguns dirão que nem tudo é mau, que há no meio disto tudo gente boa e esforçada. Submersos, responderia eu, atolados no pântano. No pântano da «vidinha».
[Nota à margem: Pelo que ouvi das declarações de Santana, Pacheco Pereira acertou em cheio nas intenções deste atleta em relação às purgas no PSD]
 
sexta-feira, dezembro 03, 2004
  Não há paciência!
Acabo de comprar um livro que a minha filha precisava para a escola. É um caderno de actividades (História e Geografia, 6.º ano) que faz conjunto com o manual que ela já tinha. O manual, da Texto Editora, tem o inestimável contributo de Fernando Rosas. O caderno de actividades tem um mural (?) meio infantil dedicado ao 25 de Abril e aos cravos que diz «Que a juventude ensine a humanidade o que é a liberdade».
Já folheei, já me enfureci, ainda vou verificar o conteúdo de algumas respostas pedidas nos exercícios. O problema não é o nosso «históriador» de trazer por casa, nem, muito menos, a liberdade. A questão é que, mudem os governos ou não, governe este ou o outro, o ensino ideologizado, condicionado, redutor, não poucas vezes mentiroso, fará o seu caminho. E o problema não é este manual, são as regras dos quadros de excelência que misturam classificações com valores de tolerância e solidariedade, é a convicção de que o saber conduz à felicidade, etc., etc. Tudo assente numa massa de professores profundamente ignorantes.
No que a estes assuntos diz respeito tenho ouvido poucas opiniões «liberais».
 
  Paradoxos. Não creio que João Bénard da Costa seja leitor de blogues. O que, aliás, só lhe fica bem. Mas gostaria de dizer que não preciso de estar sempre de acordo com ele para perceber e gostar das suas crónicas.
 
  Universos paralelos.
Às vezes clico no botão do «next blog» e espreito um ou dois desses universos paralelos.
Um exemplo do blogue de Bethany:
«I'm a 15 year old girl. I'm in 10th grade and love video games! I also love Harry Potter, im a big fan. I own all the books and all the movies! I also own a SNES, Nintendo 64, Game Cube, and GBA. My favorite games are Zelda, Tales of Symphonia, and Fire Emblem. I really want a Nintendo DS! Merry Christmas all!»
Outro exemplo. A mexicana Nancy subscreve esta lista:
1. Tus cinco palabras predilectas.
*aaysi
*chocolate
*agropecuario
*abstracto
*mil
2. tus cinco canciones para enamorar
*la partida de la gitana [airbag]
*kiss me [Sixpence None the Richer ]
*on the way down [ryan cabrera]
*amo [axel fernando]
*my alien [simple plan]
3.- mis cinco trabajos soñados
*porn star
*panadera
*diseñarosa de modas
*bailarina ago go =P
*terrorista
O octagenário Ralph («Handsome man with two good feet and a healthy appetitite. Full head of hair.»), reparador de frigoríficos, de Dillsboro, Indiana (EUA) escreve:
«Get back from dinner tonight, only to discover Marty has been here. Fuckface. I can tell by the way he messed up the toilet paper roll. He obviously tried on some of my sweats, then smeared a booger in the hall on his way out. Must think I'm stupid. And I'm not the only one he's been messing with. The smiley guy who always counts breaks in the tile, Marty snuck in his room last week and put circus peanuts down his pants. The good circus peanuts, at that.
Well I'm calling the godam Dillboro cops. Shits gone on long enough. Two weeks ago I pick up a magazine in the lobby, and right there's this guy with a silly smirk on the cover. Nurse pretends she doesn't know what I'm talking about. So I tell her to fix her goofy-ass teeth. Then at the sing-a-long on Monday, the fat lady who can't hold her head up starts shrieking, then gurgles the rest of the way through "Erie Canal." It's like WAY obvious who put her up to THAT. Time I sent some of my Price Hill boys down to introduce Mr. Turd Blossom to the taste of dirt.»
Fantástico, não?
 
quinta-feira, dezembro 02, 2004
  The Blunkett Affair Eis um assunto sempre com actualidade: The press, prejudices - and private affairs.
 
  Exercicío de admiração. Concordo com o Aviz acerca deste post. É o mais justo que tenho lido ultimamente.
Acho que é por eu ser completamente inorgânico.
 
  Há uns anos,
entrei num táxi, cujo rádio estava sintonizado na emissão do Flash-Back. Alguém referia Soares como um verdadeiro animal político. O taxista espumava. Chamarem assim animal a uma pessoa, fosse com ele e veriam, não tinham respeito por ninguém, bandalhos, bandidos... enfim, conversa de taxista.
Verifico que, nos últimos trinta anos e segundo a comunicação social, t(iv)emos dois animais desta particular espécie: Soares e Santana.
 
  Vale a pena ler. A maior parte das pessoas que eu ouvi acha que...
São tão giros, não são?
 
  Portas travessas
Registo, em primeiríssimo lugar, que utilizou (duas vezes) a palavra «inadequado» em vez da cada vez mais frequente forma «desadequado». Fico sinceramente satisfeito.
A seguir, não posso deixar de registar o embargo da voz quando salientou o muito que aprendeu com as chefias militares...
Ponho-me a pensar que Portas já andou muito caminho desde os tempos do dedinho espetado e dos meros jogos de palavras. É o político português com a oratória mais concisa, aqui e ali pontuada de pormenores que conferem ao que diz um estilo afirmativo próprio (independentemente de eu gostar ou não da criatura).
A tudo isso, que distingue Portas de Santana, junta-se o facto de o primeiro se tomar a sério (às vezes demasiado...), enquanto o segundo, apesar dos esforços, nunca conseguiu ver-se ao espelho e dizer: está ali o primeiro-ministro.
 
  A questão
mais funda que a actual crise política põe e que subjaz a todos os comentários, favoráveis e desfavoráveis, é a de que há dois planos que, sendo distintos, é cada vez mais complicado destrinçar. Um é o plano formal, das instituições e da sua ordem própria. É nesse plano que se coloca, por exemplo, a questão de saber como é que é possível dissolver um parlamento onde existe uma maioria que é formalmente estável e que formalmente não naufragou.
O outro plano é o informal, é o plano do que se diz e do que se ouve, é o plano dos editoriais, das análises dos comentadores, das entrevistas, dos blogues, das sondagens, é o plano da formação de um «conhecimento» subjectivo a que chamamos opinião, mas onde também se jogam muitos poderes (e que no limite estabelece uma registo ficcional dos acontecimentos).
«Nas sociedades modernas» (é assim que se começa a frase nos tempos que correm) os dois planos tendem a ser concorrenciais. É assim, por exemplo, no ensino, onde os aspectos informais da aquisição de conhecimentos concorrem (e muitas vezes desafiam) com o ensino formal. Muitos jovens, não sabendo muito do que lhes ensina a escola, sabem mais do que boa parte dos seus professores. É assim, por exemplo, na relação entre a informação e a análise dos blogues e o que vem nos jornais ou aparece nas televisões.
Se a parte informal se sobrepuser à formal temos um problema. Para o resolver (se tiver solução) não podemos fingir que ele não existe.

 
quarta-feira, dezembro 01, 2004
  A única coisa que me irrita
nisto tudo é que também é a vitória do mau jornalismo, largamente maioritário. O jornalismo daquelas criaturas que perguntam e induzem as respostas dos mais incautos, o jornalismo dos que exultam com a desgraça (pondo nisso o ar mais sério do mundo), o jornalismo ululante dos que gostam de bater no ceguinho e, coincidentes ou não com os anteriores, os que estarão dispostos a olhar benevolentemente um governo Sócrates, desculpando a asneira, omitindo o disparate, contemporizando com os bébés nas incubadoras. Tudo isso, beneficiando sempre do estatuto de importância que a si próprios se atribuem. E não consentindo que tal «importância» seja posta em causa.
 
  Eu não dizia?
Ora aí está o resultado do encontro entre Sócrates e o Pai Natal (ver post do dia 29 de Novembro, quando soube da demissão de Chaves).

Não sendo analista, nem colunista, nem comentador, ponho as seguintes questões à atenção dos blasfemos , e do bloguítico , entre outros, cuja opinião e comentários tenho seguido:

1. A atitude do PR suscita um clamor de indignação no país?
2. Se a atitude do PR fosse vista como uma tremenda iniquidade, isso não motivaria naturalmente um reforço de convicção no PSD, então no justo papel de vítima, dando lugar a uma situação de «revolta» que permitiria a Santana disputar as eleições como um herói, não necessariamente perdedor?
3. Se o PR (personagem que me é antipática) tivesse esperado pelo previsível maior descalabro do governo, isso não teria custos maiores para o país?
4. Se o PR tivesse adiado esta decisão, não estaria objectivamente a beneficiar o PS, mais do que a própria situação de certa maneira já beneficia? (eu pensaria nas acusações que viriam por esse lado...)
5. É ou não verdade que esta decisão deixa todos «encalacrados» mais ou menos por igual, isto é, ninguém (dos que contam) desejaria esta situação agora?
Por mim julgo que a manha (ou mesmo a vingança...) de Sampaio está nisto, embora, admito, talvez não seja suficiente para ser campeão de xadrez.
 
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