À espera dos bárbaros
domingo, fevereiro 20, 2005
  Último post. nm
Porque esperamos, reunidos na praça?
Hoje devem chegar os bárbaros.

Porque reina a indolência no Senado?
Que fazem os senadores, sentados sem legislar?

É porque hoje vão chegar os bárbaros.
Que hão-de fazer os senadores?
Quando chegarem, os bárbaros farão as leis.

Porque se levantou o Imperador tão de madrugada
e que faz sentado à porta da cidade,
no seu trono, solene, levando a coroa?

É porque hoje vão chegar os bárbaros.
E o imperador prepara-se para receber o chefe.
Preparou até um pergaminho para lhe oferecer, onde pôs
muitos títulos e nomes honoríficos.

Porque é que os nossos cônsules, e também os pretores,
hoje saem com togas vermelhas bordadas?
Porquê essas pulseiras com tantos ametistas
e esses anéis com esmeraldas resplandecentes?
Porque empunham hoje bastões tão preciosos
tão trabalhados a prata e ouro?

Hoje vão chegar os bárbaros,
e estas coisas deslumbram os bárbaros.

Porque não vêm, com sempre, os ilustres oradores
a fazer-nos seus discursos, dizendo o que têm para nos dizer?

Hoje vão chegar os bárbaros;
e, a eles, aborrece-os os discursos e a retórica.

E que vem a ser esta repentina inquietação, esta desordem?
(Que caras tão sérias tem hoje o povo.)
Porque é que as ruas e as praças vão ficando vazias
e regressam todos, tão pensativos, a suas casas?

É porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.
E da fronteira chegou gente
dizendo que os bárbaros já não vêm.

E agora que será de nós sem bárbaros?
De certo modo, essa gente era uma solução.

Constantino Cavafis
 
sábado, fevereiro 19, 2005
 
Período de reflexão  
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
  Argumentos. Leio que um dos ministeriáveis de Sócrates (além dos inefáveis Costa e Coelho) é Germano de Sousa. Não com o meu voto. Por isso lá vou no branquinho, como a cavacal figura. 
  Afinal, o tipo tem realmente graça.
Folheei, coisa raríssima, a revista Visão. Lá vem um «Exame à Campanha» feita por artistas convidados (Maria João Avillez, A. Homem de Melo, Mário de Carvalho, Júlia Pinheiro e Nuno Artur Silva). Obedece a uma classificação de bola preta a 5 estrelas e «examina» a campanha segundo os critérios de conteúdo, argumentação, clareza, imagem e eficácia. É uma daquelas coisas que a comunicação social escrita gosta de fazer, quando já não sabe o que há-de fazer mais. Notei particularmente as classificações do industrial do humor. Ao contrário do que eu estava convencido, o homem afinal tem graça. Dá bolas pretas a Santana em todos os pontos; dá 3 estrelas a Sócrates em todos os pontos; faz o mesmo com Jerónimo de Sousa; dá 4 estrelas à argumentação de Portas e 4 estrelas ao conteúdo de Louçã. Somadas as estrelas dadas em cada um dos pontos, para cada um dos candidatos, o total é 15 estrelas para cada um. Excepto para Santana que é 0. Fantástico, não é?
Este tipo de coisas é irrelevante e não tem qualquer importância, mas, nestas alturas, tenho de me controlar para não ir a correr votar no que não quero.
 
  Ontem, num blogue ao lado deste, um jovem das Filipinas escreveu isto:
Fear
I take the MRT everyday to go to work. But this Tuesday, I opted to ride a taxi because our office was near the area where the bombing occurred. And then in the afternoon, my officemate managed to convince me to ride a bus with her. We managed to have a normal conversation all throughout the ride. It was only after I got off the bus that I realized how scared I was. My knees were shaking and I wasn't breathing normally. I was so thankful that we reached our stop safely.
I know that it was exactly what the "terrorists" wanted to do. To instill fear in us. And I know that we shouldn't let them succeed. But I can't help it. I am scared.I hate this feeling. I hate what they are doing. And I hate whoever is doing this things.
 
quinta-feira, fevereiro 17, 2005
  No domingo, eu, que sou mais dos tintos e não sou militante, vou fazer como Cavaco, e contento-me com um branquinho.
Mas espero que não se repita. 
  Campanha.
Nesta campanha parece ter-se descoberto um novo Louçã, que finalmente não suscita a benevolência geral. Mas, meus senhores, ele sempre foi isto... não percebo qual é a novidade.
 
  Monte da Peceguina. Reparo que várias pesquisas deste «título» vieram parar a este blogue. Sim senhor, já aqui foi referido elogiosamente. Pode encontrar-se (que eu saiba) no Corte Inglês e nas Coisas do Arco do Vinho. E aqui: www.malhadinhanova.pt
É um vinho um pouco mais que simpático. Parabéns a quem o faz (e a quem o bebe).
A marca Francisco Nunes Garcia não tem página na net (aqui há uma referência), mas também é uma excelente alternativa a Santana e a Sócrates, muitíssimo mais credível. 
  O Ma-Schamba acabou. Diferenças civilizacionais: um país que não cuida dos seus mortos desistiu de o ser. Ou: um país que desistiu dos seus mortos deixou de os merecer. 
terça-feira, fevereiro 15, 2005
 
Barragem do Alqueva, 12 de Fevereiro de 2005  
  Palavras em riste e pombas assassinadas. amimninguemmecala.blogspot.com ou de como o silêncio seria mais útil. Acho eu, claro. 
  Figuras tristes, tristes figuras.
Ouvi há pouco declarações bem intencionais do reitor da Sé nova de Coimbra onde decorrerão as exéquias da Irmã Maria do Coração Imaculado. Dizia ele, com absoluta coerência católica mas sem inocência política, que hoje era um dia de festa e que a cerimónia iria ser uma festa. A Irmã Lúcia vai ser recebida no céu, há razões para estar contente.
Impossível não ver aqui também uma fino fio de ironia relativo aos desvarios eleitorais com que temos sido presenteados pelas «autoridades civis».
 
  Muito interessante
esta opinião. Corre-se o risco de os blogues se tornarem lugares de duplicidade, que fazem supor que a maior aspiração de alguns jornalistas é não serem jornalistas, pelo que, na prática, muitas vezes já não o são.
Quem sabe, talvez o Presidente da República ou o Primeiro-Ministro venham a fazer blogues para dizer o que não podem dizer no exercício das suas funções... No caso do Ministro das Finanças até seria de grande utilidade...
 
  Vale tudo, mesmo tirar olhos. 
sábado, fevereiro 12, 2005
  Vozes no deserto. Helena Matos e VPV, de novo. Nem vale a pena pôr links, é ir à página do Público. Apenas uma nota pessoal: há quantos anos não vou à feira de Castro! 
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
  À porta do Coliseu
uma trupe vagabunda fazia que tocava para angariar fundos, um outro vagabundo tentava distribuir folhetos que não cheguei a perceber o que eram, vários pedintes. Entre eles, um militante distribuía silenciosamente propaganda eleitoral da CDU, agradecendo impecavelmente a todos, aos que aceitavam e aos que não aceitavam. Um missionário humilde.
 
  Mahler, Sinfonia N.º 6, dita «trágica». Orquestra Concertgebouw de Amesterdão dirigida por Mariss Janssons. Absolutamente magnífico. Depois, o silêncio de caminhar por ruas desertas. 
quarta-feira, fevereiro 09, 2005
  Serve esta nota
para dizer à Inês que é bom saber, pela simples menção, que distingue aquela «pequena solidão», tão necessária, tão indispensável, da grande solidão que é a do isolamento. Essa pequena solidão protege-nos do alvoroço dos outros e do mundo. É um reduto da nossa identidade, e por isso é também um lugar de resistência. E, claro, também é o espaço dos gostos e dos prazeres que são, em primeiro lugar, actos solitários, como a leitura. Por outro lado, o prolongamento excessivo da pequena solidão dá lugar ao sentimento de privação do Outro. Falta o espaço de partilha, de troca, de ver no olhar do Outro o nosso próprio entusiasmo. Ou de nos entusiasmarmos com o entusiasmo do Outro. Faça o seu caminho. No fundo é a isso que se chama crescer. O caminho é incerto, inseguro, irregular. Mas tem de ser feito. Depois..., depois estaremos sempre à espera dos bárbaros. Esta espera é sempre, porém, algo ambígua como verá quando conhecer o poema de Cavafis que está na origem do nome deste blogue.
 
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
  Palavras de Agustina.
Leio no DN uma entrevista de Agustina: «Santana Lopes tem uma característica que é o que eu considero o homem de futuro o homem de futuro é o homem comum. A nossa gente está ainda educada para ser excepcional e para ter uma certa subserviência perante o homem excepcional, que é o salvador da pátria, o grande economista, o grande guerreiro... Mas essa imagem foi-se esbatendo e o futuro é do homem comum. Preparado, mas que não se distancia das multidões.»
Fez-me lembrar uma página admirável de Josep Pla (sobre Eugénio d'Ors) em que aquele autor diz que há pessoas «de quem não devíamos ser contemporâneos», que devíamos poder admirar apenas na distância do tempo.
 
  João Bénard da Costa Quem costuma ler este blog sabe certamente o que penso disto. Os arquivos estão disponíveis.
 
  Espanto,
perplexidade, decepção.... Acabam de me dizer que este ano o Dr. Alberto João Jardim não participa nos desfiles carnavalescos. O país viverá os próximos dias mergulhado em profunda depressão.
 
  Confirmação
de que nem um nem outro tem ideias. Incluindo o mostruário de jornalistas, todos com um ar gravíssimo. Sócrates esteve bem na recusa das «explicações» de Santana e esteve bem num ou noutro ponto, como o de tentar colar-se aos críticos internos do PSD. Santana não lhe deu saída e foi o melhor que fez. Santana esteve muito mais à-vontade, aproveitou bem o pretexto do dedo espetado (aliás Sócrates parece um boneco de corda) e esteve mais solto na questão dos números. Percebe-se que nenhum deles sabe muito de economia e finanças, é tudo colado e é uma questão de lição aprendida melhor ou pior. Santana está mais dentro das coisas e isso notou-se. Mas... ideias propriamente ditas... não há. Nenhum deles tem perfil e estofo de estadista. Agarrados à agenda dos interesses (dos sindicatos, do patronato, enfim dos sectores da economia), estes candidatos -- e os senhores jornalistas -- não têm nenhuma ideia para o país ou sequer para eles próprios. Têm chavões, dizem generalidades. Resolvida a questão da despesa pública, do déficit, dos funcionários públicos, dos desempregados, das pensões, tudo correrá pelo melhor. A educação não tem nada que se lhe diga, a justiça também não. O resto do mundo não existe. Bah...
 
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
  Concordância.
No Aviz diz-se que todos os professores deviam ler o livro de Steiner, As Lições dos Mestres, agora traduzido na Gradiva. Absoluta concordância, perturbada apenas por um pensamento: acha que aqueles a quem a leitura faria mais falta perceberiam?

Traduzo da edição francesa, que é a que tenho: «O verdadeiro ensino pode ser uma empresa terrivelmente perigosa. (...) Ensinar sem séria apreensão, sem uma reverência perturbada pelos riscos implicados, é uma frivolidade. Fazê-lo sem ter em conta as possíveis consequências pessoais e sociais é cegueira. O grande ensino é aquele que desperta dúvidas no aluno, aquele que é uma escola de dissensão. É o que prepara o discípulo para a partida («Agora deixa-me», ordena Zaratustra). No fim, um bom mestre deve estar só».
 
  Discordância.
Talvez seja a idade, mas o argumento do Bloguítica para votar Sócrates, se, por um lado, é compreensível, lógico e pragmático, por outro é demasiado simplista. Bem sei que as pragas por vezes se combatem libertando espécies predadoras que as eliminam. Mas como não somos moscas, é bom ter em conta o cansaço de quem já viu outros Sócrates. Mas o problema não é só Sócrates. E os outros da companhia? Substituir Santana por Sócrates.... ainda vá. Mas... e o resto que vem atrás? Outra vez? É bom que se pense nisso.
 
  E se fosse? Não vi a entrevista de Sócrates, mas percebo que veio dizer, pelo menos implicitamente, que não é homossexual. E se fosse? Santana passava a ter razão?
 
  Welcome back. O que se tem dito no Bloguítica é a prova de uma exemplar serenidade. Ainda bem que não desapareceu.
 
terça-feira, fevereiro 01, 2005
  Revista LER. Ontem à noite li a revista LER.
Suspeito que nunca serei grande derridaniano, mas gostei muito de ler o texto de Abel Barros Baptista, a quem saúdo. Acho que percebo muito bem o que ele diz. Recomendo.
Gostei também bastante do tom de Frederico Lourenço na entrevista que lhe é feita. Aprecio a sua serenidade e humildade (num sentido nobre). Tem mesmo algumas observações tocantes.
Gostei muito das páginas de diário de Eugénio Lisboa. Espero agora que apareça em livro.
Enfim, o que eu queria dizer é que à nossa volta nem tudo é mau.
 
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