À espera dos bárbaros
segunda-feira, dezembro 06, 2004
  Cansaço.
Durante 2 dias os jornais e as televisões vão ocupar-se dos problemas da Língua Portuguesa.
A RTP, segundo leio nos jornais, vai até fazer um programa (o daquela mulher horrorosa e alucinada) sobre o assunto. Coisas fundamentais vão ser ditas, outra coisa não pode deixar de ser... Também disto estou cansado.
Alguém tem ideia de como é ensinada a Língua Portuguesa nas escolas? Alguém tem ideia dos disparates que se dizem por este país fora, nas escolas? Alguém já folheou os manuais com olhos de ver? Alguém está interessado em saber porque é que ensinam às crianças que um determinante é uma palavra que está à esquerda dos substantivos? Alguém está interessado em saber que muitos dos erros dos alunos têm origem na deficientíssima dicção dos senhores professores, que são maioritariamente senhoras professoras? Alguém está interessado em alguma coisa? Alguém já fez aos professores as perguntas que estes fazem aos alunos? Iam ter grandes surpresas...
Alguém já apreciou produção escrita de professores de português (ou de história, ou de filosofia, ou de outra coisa qualquer)? Os professores de Língua podem não ler Camilo, ou mesmo Eça, mas decerto leram, nas férias de verão, o Código Da Vinci. E gostaram. E acham que isso os torna cultos e interessantes.
Acham Saramago difícil (difícil de ler, não difícil de engolir...); Vergílio Ferreira ou Agustina não, são muito chatos. Ruben A. nunca ouviram falar. Os mais «práfrentex» compraram um ou outro livro de Lobo Antunes, o que não quer dizer que tenham chegado ao fim. De Nemésio acham que «ah, sim, acho que foi um escritor». Fogem das Viagens de Garrett, como o diabo da cruz: não querem que as suas crianças passem o que eles passaram na escola... Compreendem perfeitamente que as crianças não gostem de livros «pesados» e prefiram coisas «mais ligeiras».
Ensaio nem pensar. O problema está exactamente em ter de pensar. [Um programador cultural de uma instituição que se diferencia por apresentar tudo o que há de mais «contemporâneo» dizia numa entrevista que não lê ensaio, só ficção.]
Poesia, só a que vem nos manuais e vá lá, vá lá...., mas gostam muito de Florbela Espanca e de alguns poemas de Sophia. Acham que Pessoa era doido e que é triste demais para as crianças. Mas, acima de tudo, acham que agora os jovens não lêem por causa da PlayStation e da televisão.
Chega.
 
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