À espera dos bárbaros
segunda-feira, dezembro 27, 2004
  Em pleno PREC
e num lugar bem quente política e geograficamente, havia um médico de meia idade que atribuia (com sotaque do Norte) tudo o que de mal acontecia aos «estrangeiros». Não se sabia bem a extensão desta acusação, mas os estrangeiros eram o inimigo por detrás de tudo.
Este homem interrogava, no café, uma daquelas figuras de província, cuja idiotia dócil torna populares, sobre se gastaria menos gasolina conduzindo mais depressa, isto é chegando mais rapidamente ao destino, ou o contrário. O outro, que a si próprio se designava como o «parvo mais esperto» da terra, escancarava a boca e os olhos perante a complexidade da questão.
Este médico sustentava frequentemente que as guerras e as calamidades são formas de regulação natural, uma espécie de controle providencial dos excessos populacionais, da fome e da miséria.
Há gente que pensa assim. Gente cheia de si e da sua importância. Gente que decerto nunca se sente aquele «bicho da terra tão pequeno» de que fala Camões.
 
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