À espera dos bárbaros
quinta-feira, dezembro 02, 2004
  A questão
mais funda que a actual crise política põe e que subjaz a todos os comentários, favoráveis e desfavoráveis, é a de que há dois planos que, sendo distintos, é cada vez mais complicado destrinçar. Um é o plano formal, das instituições e da sua ordem própria. É nesse plano que se coloca, por exemplo, a questão de saber como é que é possível dissolver um parlamento onde existe uma maioria que é formalmente estável e que formalmente não naufragou.
O outro plano é o informal, é o plano do que se diz e do que se ouve, é o plano dos editoriais, das análises dos comentadores, das entrevistas, dos blogues, das sondagens, é o plano da formação de um «conhecimento» subjectivo a que chamamos opinião, mas onde também se jogam muitos poderes (e que no limite estabelece uma registo ficcional dos acontecimentos).
«Nas sociedades modernas» (é assim que se começa a frase nos tempos que correm) os dois planos tendem a ser concorrenciais. É assim, por exemplo, no ensino, onde os aspectos informais da aquisição de conhecimentos concorrem (e muitas vezes desafiam) com o ensino formal. Muitos jovens, não sabendo muito do que lhes ensina a escola, sabem mais do que boa parte dos seus professores. É assim, por exemplo, na relação entre a informação e a análise dos blogues e o que vem nos jornais ou aparece nas televisões.
Se a parte informal se sobrepuser à formal temos um problema. Para o resolver (se tiver solução) não podemos fingir que ele não existe.

 
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